Duas situações recentes chamaram a atenção da opinião pública, por razões semelhantes – a recente polêmica em torno do preço diferenciado das “baladas”, entre homens e mulheres, e a fixação de preços à vista ou a prazo para o mesmo produto. Duas situações aparentemente distintas, mas que têm a mesma raiz – a intervenção do estado nas relações da livre iniciativa.

Vou ter que fazer uma tradução um tanto que “adaptada” para o inglês, para minha audiência de fora do Brasil, para poder fazê-los entender um pouco o pano de fundo de tudo isso. É bastante difícil explicar esse tipo de situação para pessoas de economias verdadeiramente de livre mercado.

Começando pela polêmica das baladas (e depois estendida às churrascarias rodízio), temos uma situação em que um homem se sente lesado porque o preço oferecido pelo dono do estabelecimento ao cliente é diferenciado pelo sexo da pessoa. Mulher paga meia. Isso, no Brasil, tem sido histórico por uma razão – mulher ia “festar” menos (não sei se ainda é verdade, pois não sou “baladeiro” há 30 anos). Ora, o comerciante tem diante de si um dilema – se não atrai a clientela feminina, não atrai também a masculina, e fica com a casa vazia. A solução, antiga e simples é adaptar o “mercado” à necessidade do público. Sem mulheres na festa, sem homens na festa. Sem homens na festa, casa vazia, prejuízo e bancarrota.

Todas as moças entrevistadas nas filas das boates foram unânimes em afirmar que a decisão era correta – que o preço fosse o mesmo para todos. Conhecendo a mídia de hoje e suas agendas escondidas, não dá para dizer que foi uma opinião geral ou se foi escolhido o público respondente. O “politicamente correto” é mais forte do que o mercado? É possível que o ativismo social cale as necessidades econômicas? Essas são as questões.

O mesmo vale para churrascarias, e aqui com um critério objetivo: mulher, com raras exceções, comem menos que os homens. Portanto, o preço diferenciado equivaleria a um “quilo atuarial” – por média, fecha-se o preço adequado a cada consumo. Mas qual… o estado tem que intervir.

Os efeitos desse tipo de decisão ainda não foram percebidos pelo mercado em todas as suas nuances e vieses. Mas criou-se uma situação artificial, em que mais uma vez o estado se mete onde não precisa nem deveria. Achou a balada cara? Vá em outra. Não achou outra do seu agrado e preço? Volte para casa! Por anos o mercado se regulou, e não me consta que o mercado de “baladas” tenha sofrido por esta razão. Deixar o mercado em paz não é do feitio do Brasil. O estado brasileiro, cartorial e “entrão” precisa se meter. Precisa chatear todo mundo. Precisa criar anomalias que gerarão outras anomalias.

Na mesma semana, outra polêmica – preço à vista e preço a prazo – desta vez, o estado brasileiro “magnanimamente” permitiu que comerciantes cobrassem preços diferentes para o mesmo produto, já que o Procon vinha multando todo mundo que assim procedia. Observem o nível de intervenção – mesmo uma procuradoria de “defesa do consumidor”, que em tese deveria entender sobre precificação, se negava a entender que sobre o cartão de débito e crédito existe uma “cunha” de preços de até 4%, 5%, e que, portanto, cobrar a mais pela venda com esses mecanismos é simplesmente um método de evitar perdas, e não de lesar o consumidor. Uma anomalia leva a outra anomalia, que vai levar a outra anomalia, podem ter certeza.

 

Wesley Montechiari Figueira

Sócio Diretor