Parece brincadeira que há tão pouco tempo festejávamos, alguns, a aquisição da parte de aviação civil da Embraer pela Boeing, gigante de um mercado ultra consolidado de aeronaves, num mundo dominado por gigantes. A Boeing é a empresa com o 8o. maior peso no índice Dow Jones Industrial nos EUA, com um valor de mercado de mais de US$ 200 bilhões. Um colosso.
Ocorre que recentemente tenho lido interpretações diversas da crise na companhia, desde as falhas descobertas no Boeing 737 MAX, cujos desastres em algumas companhias aéreas fez com que a própria Boeing, além da agência americana de aviação civil, a FAA, tirassem de circulação mais de mil aeronaves do tipo em todo mundo.
Um articulista é absolutamente contundente ao declarar que, se a Boeing não for salva pelo governo americano, vai à falência – veja no Estadão em
http://ow.ly/B4bU50x2koD.
Ele dá conta de que existem 500 aeronaves em mãos de linhas aéreas, parados, e mais de 1.5 mil “entopem” os pátios da Empresa. Imaginem o prejuízo, fora a imagem…
Outros não são tão contundentes assim, e se limitam a dizer que provavelmente em 03 de Dezembro as aeronaves deverão ser liberadas para voar, quando os pilotos das companhias aéreas forem treinados no uso de um sistema automático de controle de voo, chamado MCAS, o que “salvaria” a empresa de danos maiores. Ocorre que aparentemente a empresa “ocultou” que tal sistema existisse, o que causou pelo menos dois acidentes graves, em curto espaço de tempo.
Qualquer que seja o destino da Boeing, está ficando claro para a FAA, que aparentemente houve erros que não foram devidamente reportados, e não solucionados, o que teria gerado modificações “inadequadas” de projeto – um mexe daqui, estica dali, bota um silver tape acolá… e que aparentemente teria burlado o mecanismo de controles internos e governança corporativa da empresa a ponto de gerar uma situação tão explosiva que pode implodir a Companhia.
Bom, e a Embraer? Como brasileiros, não somos, no papel, exemplo para ninguém, principalmente em áreas que exigem controles de grosso calibre e que demandam decisões do tipo “cortar na carne”. O silver tape, o jeitinho, parece muito mais com a Embraer do que com a Boeing. Mas o fato é que hoje temos que lidar com um problema gordíssimo – é possível que a Embraer acabe saindo chamuscada do processo? Afinal, como noticiava a Folha, “O acordo com Embraer pode ajudar Boeing a superar crise pós-737” ( https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/05/acordo-com-embraer-pode-ajudar-boeing-a-superar-crise-pos-737.shtml).
O fato é que a coisa pode andar pra trás, creio, caso não haja salvação para a Boeing em termos adequados, ou ainda que acionistas insistam em que companhia “livre lastro” no processo de eventual Chapter 11.
Quanto ao aspecto que mais me chama atenção, profissionalmente, uma vez mais fica clara a máxima que aprendi na Arthur Andersen, nos anos 80, e que acabou valendo para a própria centenária e defunta firma de auditoria – “Contra o conluio, não há controle interno que dê jeito”. Em havendo a motivação suficiente, o apertão no calo correto, no nível hierárquico correto, o controle interno e a governança corporativa vão para o espaço em questão de dias. O bom do capitalismo é que realmente uma falência ruidosa costuma colocar as coisas nos devidos lugares, isto quando agentes reguladores não aproveitam o ensejo e criam mais uma tonelada de regulamentações que tornam a vida empresarial ainda mais custosa, numa espiral aparentemente sem fim.
A Embraer? Bom, tinham até 2020 para concluir uma transação. Estou começando a duvidar que ela saia.
Wesley Figueira | Managing Partner